Grupo, Coletivo e Time: Distinções e Impactos na Organização que evolui

“NÃO PODEMOS SIMPLIFICAR O COMPLEXO E O QUE PRECISAMOS SABER HOJE, MAIS DO QUE EM OUTROS TEMPOS, É LIDAR COM A COMPLEXIDADE.”
Flavia Vivacqua 

Se você acha que é tudo a mesma coisa, e que o importante é que sempre são um agrupamento de pessoas que no fim estão realizando coisas juntas… atenção, a generalização não nos ajuda em tempos de reinvenção do trabalho na era da colaboração.

Simplesmente, porque não podemos simplificar o complexo e o que precisamos saber hoje, mais do que em outros tempos, é lidar com a complexidade. O contexto do trabalho vem mudando profundamente e em especial nas últimas duas décadas, não somente pelas tecnologias digitais, mas também pelas tecnologias para processos colaborativos.

Muitas dessas tecnologias, foram geradas, sistematizadas e reconhecidas a partir da década de 80 e tomaram escala mundial a partir dos anos 2000. A abordagem para grupos bem como suas dinâmicas, passaram a ser objeto de estudo e ação com mais consistência a partir dos anos 50. Mas o que aconteceu nas últimas décadas é que se complexizou a existência, ambiência e compreensão dos agrupamentos humanos de trabalho e suas relações. Passando a se diferenciarem quando grupos, coletivos e equipes.

Muitas pessoas não percebem que passam de um termo ao outro em uma mesma frase, sem se darem conta de quanto distinto cada uma dessas nomenclaturas pode ser ou significarem. 

Os agrupamentos humanos, tem uma gama por vezes hibrida de possibilidades formativas, então, o que descrevo a seguir aborda mais as distinções entre cada um dos termos do que suas similitudes ou matizes possíveis. Também, vale ressaltar que descrevo o que observei nos últimos vinte anos de experiência com agrupamentos humanos e é um fato que talvez em um futuro não muito longínquo possamos reconhecer ainda outros padrões emergentes.

GRUPO?

Grupo tem uma identidade definida a longo prazo, mesmo depois que ele se desfaz. Normalmente um grupo tem contornos de identidade, cultural e acordos bem delimitados, que determinam um dentro e um fora. Quem pertence e quem não pertence. As pessoas que participam de um grupo se reconhecem ali e seus integrantes são espelhos fieis. Normalmente o grupo é criado por afinidade, seja de interesses comuns ou função desejada comumente reconhecida. Há um propósito – e tudo que ele significa – comum e alinhado, construído conjuntamente como horizonte a seguir, de maneira aprofundada. O senso de grupo e continuidade existe enquanto a função, o propósito e seu significado, as características e suas relações se mantém. A identidade está mais ligada a função do grupo e seu propósito. A cultura, além da importância da identidade, agrega a qualidade relacional, o modos operante – o que é feito e como é feito. Os tempos são definidos, há processos e uma cadência e ritmo de trabalho internamente acordado que permite o aprofundamento e sistematização de processos. No grupo, mesmo que exista um nome ou características capazes de gerar vínculos e identidade ao grupo para quem está de fora, ainda assim, as singularidades de cada participante são reconhecidas, valorizadas e preservadas interna e externamente ao grupo, porque há tempo de cuidado para essa construção. (Claro, que estamos nos referindo a grupos saudáveis, não dogmáticos ou ditatoriais, que sabemos também existem). Dessa forma, as ações são uma derivação de sua função, seu propósito. Os processos e suas dinâmicas relacionais, bem como seus padrões emergentes, são uma derivação de sua maturidade e cultura interna. 

COLETIVO?

Coletivo é a forma mais experimental de agrupamentos humanos. Eles podem tomar diferentes formas, mesmo quando preservam um mesmo agrupamento de pessoas. Pode haver uma dinâmica aberta onde entradas e saídas acontecem de modo mais espontâneo, focado na ação. Sua existência pode ser temporária e pontual tanto quanto dure uma determinada experiência ou ação. Tem contornos mais mutáveis e agilidade adaptativa. Inicialmente se formavam apenas por afinidades. Porém hoje são cada vez mais multidisciplinares ou interdisciplinares. Sua principal característica é ser um agrupamento que se dá eminentemente pela ação, ou seja, pela manifestação de algo em comum na realidade. Quase sempre pautados por uma causa. Então, não necessariamente o coletivo vai estar estabelecendo processos definidos, contudo, a ação realizadora é preeminente e motivo suficiente para o coletivo existir. Um exemplo extremo são os coletivos que se formam nas ZAT – Zonas autônomas temporárias, como nos FlashMobil. Nos coletivos o tempo é o agora, o efêmero e o imprevisível são considerados e para práticas criativas ou ativistas, estratégia e tática. As formas organizativas são quase sempre rizomáticas e ágeis. O número de participantes pode variar muito chegando a uma pequena multidão, movida pelas ações. A identidade está menos pautada na somatória desses indivíduos, ela é gerada nas ações. Quase sempre, ações diretas. É comum o caráter de anonimato dos indivíduos. 

EQUIPE?

A diferença fundamental entre Equipes para as outras duas nomenclaturas, é que uma equipe está necessariamente inserida em um contexto institucional. Então há uma organização maior a qual aquele agrupamento está vinculado. A identidade dela leva a identidade do sistema maior. O agrupamento é elemento operacional e representativo. A identidade de uma equipe está diretamente relacionada a cultura organizacional da qual ela está inserida, já que ela é criada no todo da organização e não exclusivamente por quem faz parte da equipe. Ela tem uma série de diretrizes que são estabelecidas no domínio de uma instância superior a própria equipe. Então, a equipe é funcional e técnica, mas ela é funcional não por princípios e valores internos a equipe mesma, mas antes ela é funcional pelos princípios, valores e necessidades do sistema organizacional a qual ela pertence. Nas equipes também a identidade individual é muito mais apoiada nos papeis, na técnica e cargos, do que no ser de cada indivíduo.

CONCLUSÃO

Esses agrupamentos humanos são muito distintos entre si e isso vai gerar diferentes padrões relacionais, tanto interno quanto externo a ele. Gerando diferentes identidades e culturas organizativas. Diferentes habilidades são necessárias e desenvolvidas em e para cada um desses agrupamentos, pois os desafios, problemas e conflitos que emergirão serão em sua maioria, também diferentes para cada um desses ambientes.

Reconhecer que existem diferentes padrões, características e dinâmicas em cada um desses agrupamentos nos ajuda a compreender e analisar que a instância social do trabalho não só está mudando como está sendo geradora de vários modos produtivos, seja de conhecimento\tecnologias ou objeto\produtos e serviços. O importante é entender que a “Forma estrutural” de trabalhar conjuntamente está mudando tanto quanto o “Como” trabalhamos e o “O Que” produzimos\realizamos. Então temos uma gama e uma complexidade maior do que havíamos faz poucas décadas. Sendo válido reconhecer, valorizar e repensar os padrões emergentes nos agrupamentos humanos para o trabalho, antes mesmo de olhar para organizações e suas complexidades de ecossistemas.